Como lidar com a raiva?
- Carolina Bittencourt

- 10 de nov.
- 3 min de leitura
A raiva costuma ser vista como algo negativo — uma emoção que precisamos controlar, esconder ou evitar. Mas, na verdade, ela é uma força vital, uma energia que aponta para algo importante: um limite, uma frustração, uma necessidade que não foi reconhecida.
Quando olhamos com cuidado, percebemos que a raiva tem muitas faces, e que cada uma delas nos fala sobre um modo diferente de estar no mundo e se relacionar.
1. A raiva que se acumula
É aquela irritação que vai crescendo aos poucos. O corpo vai dando sinais: o peito aperta, o tom de voz muda, o olhar fica mais tenso. Muitas vezes, essa raiva aparece antes mesmo de termos consciência do que estamos sentindo.
Na terapia, é comum perceber que, por trás dessa tensão, há uma necessidade não atendida — de ser ouvido, de ser respeitado, de ter espaço. Quando conseguimos reconhecer esses sinais no início, temos a chance de agir com mais clareza, em vez de explodir.
2. A raiva que explode
Essa é a face mais visível da raiva: quando ela vem como uma onda que atravessa o corpo. É o “basta” que sai sem filtro. Apesar de parecer destrutiva, essa raiva carrega uma mensagem: algo ultrapassou o limite do que podemos suportar.
Quando acolhida, ela pode se tornar uma força de proteção e autenticidade. Quando ignorada ou punida, tende a se repetir em ciclos — e a pessoa continua sem conseguir dizer o que precisa.
3. A raiva que endurece
Há também a raiva que não vai embora, que fica como um peso, uma amargura, uma hostilidade constante. Muitas vezes, ela está ligada a dores antigas, situações que não puderam ser expressas ou elaboradas. Essa raiva “guardada” vai tomando espaço no corpo e nas relações.
No processo terapêutico, ela pode se transformar em tristeza, em choro, em palavras que finalmente encontram lugar. O papel do terapeuta é ajudar a pessoa a reconhecer essa energia parada e dar a ela um novo caminho de expressão.
4. A raiva escondida
Essa é a raiva que se disfarça de calma, ironia ou indiferença. Ela não grita, mas se manifesta em silêncios longos, respostas secas, afastamentos. É uma forma de se proteger do conflito, mas ao mesmo tempo impede o contato real com o outro.
Na terapia, é importante criar um espaço seguro para que essa raiva possa ser reconhecida — sem julgamento, com curiosidade. Quando isso acontece, algo se abre: a pessoa começa a se aproximar do que sente de verdade.
5. A raiva que transforma
Essa é a face mais criativa da raiva. É quando ela se transforma em movimento, em mudança, em força para dizer “isso não está certo” ou “eu mereço mais”. É a raiva que não destrói, mas impulsiona. Quando alguém aprende a reconhecer e expressar a própria raiva de forma consciente, ela deixa de ser uma ameaça e passa a ser uma aliada. Essa é a raiva que nos ajuda a crescer, a colocar limites, a nos posicionar no mundo.
Olhar para as faces da raiva é um convite para nos relacionarmos melhor com nós mesmos. Em vez de tentar eliminá-la, podemos aprender a escutá-la: o que ela quer me mostrar? Do que estou precisando agora?
Na Gestalt-terapia, a raiva é vista como parte natural do ciclo do contato — uma energia que, quando reconhecida e integrada, nos devolve presença, força e autenticidade.

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