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Como passar por mudanças sem surtar?

  • Foto do escritor: Carolina Bittencourt
    Carolina Bittencourt
  • 10 de nov.
  • 4 min de leitura

Um manual nem um pouco convencional de como sobreviver às mudanças da vida.


Eu sou uma pessoa que me considero sempre pensando no próximo passo, sempre à frente, tendo ideias do que eu desejo fazer a seguir e planejando como conquistar o que eu coloco na minha cabeça que gostaria de fazer. Sou uma pessoa em movimento, e em constante transformação. Adoro fazer planos, adoro pensar no futuro, me entretenho com o que vira à seguir.


No entanto, mesmo sendo essa pessoa, quando a realidade chega é terrivelmente assustador. A realidade da mudança, digo: da novidade.


Mudar, ainda hoje, mesmo depois de ter mudado tanto, ainda é a forma de estar na vida mais assustadora que eu já vivi. Principalmente quando estou mudando para algo que eu nunca vivi antes, completamente novo.


Eu trabalho há 8 anos, sem interrupções, com crianças e adolescentes. Um pouco menos que isso com adultos. Desde o meu primeiro estágio eu estou em movimento, trabalhando com saúde mental e desenvolvimento humano. Eu adoro trabalhar, adoro o que eu faço, me ocupa e me entretém.


Desde que decidi seguir a carreira clínica, com 23 anos, eu queria ter o meu próprio consultório. Eu me imaginava recebendo as pessoas num lugar que eu mesma planejei, com os móveis que eu escolhi, da maneira que eu organizei. Eu me imaginava sentando na minha própria poltrona e ouvindo as histórias das pessoas diretamente do meu sofá.


No entanto, essa era uma realidade tão distante da minha que eu nem conseguia vislumbrar uma pontinha desse sonho. Comecei atendendo no consultório de outras pessoas, mas cadeiras de outras psicólogas, tentando encaixar disponibilidade e horário, variando de endereços, de cores, de sofás, obedecendo as regras das outras psicólogas, mudando sempre ao longo dos anos. Sempre, por algum motivo, eu precisava mudar de endereço. Nunca era meu espaço.


Eu aceitei o que eu podia fazer na época, e ia equilibrando os pratinhos ao longo dos anos. Acabei me estabelecendo em uma região, mesmo com as mudanças, e em um consultório alguns dias da semana, no qual fiz a maior parte dos meus atendimentos até então. Me afeiçoei pelo consultório que atendia, pela dona dele, e permaneci lá, confortável. Mas nem sempre eu podia expandir meus horários, visto que o espaço era dividido com outras profissionais.


Fui construindo aos poucos a minha clínica, com muito carinho e ela foi crescendo. Sinto que fui gestando ao longo desse tempo um terreno fértil para meu próprio crescimento. Mudei, me transformei, e hoje estou aqui.


Então, em mais uma necessidade de mudança, acho um lugar novo com uma novidade: a dona iria se mudar, e procurava alguém para tomar posse da sala: uma sala pronta, com tudo que eu imaginava na minha sala dos sonhos, eu só precisaria comprar os móveis. Era um sonho?


Pensei, refleti, e por fim fazia todo o sentido aceitar. Essa seria uma mudança gigantesca, mas eu havia trabalhado e juntado muito pra isso. Já estava com um preparo maior nesse momento, com um equilíbrio melhor e portanto me sentia pronta para alcançar novos voos e para assumir essa grande responsabilidade que é um consultório inteiro só meu.


Fez tanto sentido! Eu fiquei tão feliz!


Até que não fez mais. O medo, ele era avassalador. Destruidor de bases. Eu não conseguia ficar em pé de medo. O que eu havia feito? O que eu tinha topado fazer? As pessoas contavam comigo, e eu só conseguia me arrepender da minha decisão.


É até difícil de escrever sobre isso. Eu não conseguia parar de tremer, diariamente. O ar me faltava, as palavras embolavam, os pensamentos já não tinham mais nexo. Eu só queria desistir.


Ao longo do tempo, eu pedi ajuda. Muita ajuda. Falei com as pessoas à minha volta, pedi suporte e apoio. As pessoas me encorajaram, me acalmaram e me tranquilizaram. Me indicaram também. Mais atendimentos chegaram, me fortalecendo na ideia de que sim, eu deveria estar me movimentando exatamente nesse sentido. Era o que eu sempre sonhei. Não posso esquecer de onde vim e do que desejei por tanto tempo.


Sentei com o medo dia desses e perguntei: tá, mas qual o problema? Ficar sem dinheiro? Não conseguir sustentar? Não ser forte o suficiente? Nós já passamos por tudo isso, Medo. Nós já vivemos tantas mudanças desestabilizadores e aqui estamos nós, de pé, apesar de todo o terremoto que já nos assolou. Por isso, é difícil pra mim imaginar que algo nos tire tanto o chão. Lembra do que você já viveu.


Depois dessa conversa eu esperei um pouco. Esperei que o Medo se acalmasse, esperei que o novo não fosse mais tão novo, e fui me acostumando à ideia dessa grande responsabilidade. Fui forçando o ar a entrar mesmo quando ele não queria, e fui fazendo tudo que fosse possível nesse caminho para me fortalecer.


Por isso eu não esqueci meu sonho, relembrei o que já vivi, e continuei. A memória é poderosa, quando utilizada com consciência. E a espera é uma aliada potente. Finalmente, o medo se acalmou um pouco. Eu parei de tremer, e o ar voltou a correr livre pelos pulmões. As vezes ainda dá uma travada, mas eu paro e respiro fundo e ele retorna ao seu fluxo normal. Eu estou agora mobiliando, aos poucos, o espaço que futuramente será meu. Imaginando e planejando o sonho que ficou na minha cabeça por tanto tempo.


Eu tenho muito, muito orgulho mesmo da minha trajetória. Tenho orgulho de todas as vezes que senti um medo devastador e avassalador e que continuei, apesar dele. Tenho orgulho das vezes que sentei com o medo e conversei com ele, entendendo de onde ele vinha e o que ele precisava tanto me dizer. Tenho orgulho de lembrar das minhas conquistas, das minhas habilidades e até do que deu errado — aprendizados para não se repetir. Tenho muito orgulho de quem eu sou depois de tudo que vivi.


Pra quem ficou até aqui, obrigada por acompanhar minha história. Aos poucos conto mais sobre o novo espaço. E vamos juntos nessa caminhada de autodescoberta que é a vida.

 
 
 

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Psicóloga Carolina Bittencourt | CRP 05/64826 | Atendimento presencial na Barra da Tijuca e online em todo o Brasil

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