Como saber se a terapia está funcionando? Como a terapia pode mudar a vida do seu filho

Uma das perguntas mais frequentes entre pais que buscam psicoterapia para seus filhos é: “Como saber se a terapia está funcionando?” Essa dúvida é legítima e revela o desejo genuíno de ver a criança bem, mais tranquila, confiante e feliz. No entanto, do ponto de vista clínico, os resultados da terapia infantil nem sempre aparecem de imediato e, muitas vezes, surgem de formas que não são imediatamente visíveis aos olhos dos adultos.

Na Gestalt-terapia, compreendemos que o processo de mudança não se reduz à modificação de comportamentos. Ele envolve um movimento mais profundo de integração emocional e de ampliação da consciência de si (Yontef, 1998; Martín, 2008). Por isso, entender como a terapia transforma a vida de uma criança implica olhar para o que acontece dentro , nao apenas para o que se manifesta fora.

O que realmente muda na criança durante a terapia

A mudança mais significativa que a psicoterapia promove é o restabelecimento da capacidade de contato da criança — com ela mesma, com o outro e com o ambiente. Violet Oaklander (1980) descreve esse processo como o resgate da vitalidade e da espontaneidade natural que, muitas vezes, se perde diante de experiências dolorosas, doenças, separações ou contextos familiares desorganizados.

No início do processo terapêutico, a criança pode parecer “a mesma”: ainda tímida, desorganizada ou reativa. Mas há algo diferente acontecendo em seu modo de estar. Ela começa a se reconhecer, a nomear emoções, a experimentar novas formas de se expressar e a lidar com situações antes paralisantes.

Essas mudanças internas precedem as transformações comportamentais observáveis. Quando a criança passa a se escutar, a compreender seus sentimentos e a se sentir segura para se expressar, ela naturalmente encontra outras maneiras de se relacionar e de responder ao mundo.

Os sinais de que o processo está funcionando

Ao longo do atendimento, alguns indicadores apontam que a terapia está gerando movimento e integração:

1️⃣ Maior expressão emocional: a criança fala mais sobre o que sente, desenha, brinca e dramatiza com mais liberdade — mesmo que isso envolva raiva, medo ou tristeza.

2️⃣ Mais espontaneidade e curiosidade: ela demonstra maior interesse em explorar o ambiente e se envolver em novas experiências.

3️⃣ Reações mais organizadas: embora ainda existam frustrações e conflitos, ela começa a reagir de modo mais coerente com a situação e menos impulsivo.

4️⃣ Ampliação do contato nas relações: há mais abertura para vínculos, diálogo e afeto com pessoas significativas.

Esses são indícios de que o self da criança está se reorganizando, ou de que ela está reconstruindo a ponte entre sentir, pensar e agir de forma integrada.

Por que essa mudança é diferente de “ensinar comportamentos”

A Gestalt-terapia não busca ajustar a criança a um modelo de obediência ou “bom comportamento”. Seu foco é restaurar o fluxo de contato e a capacidade de awareness — isto é, de perceber e dar sentido à própria experiência (Yontef, 1998).

Quando a criança volta a se sentir inteira, o comportamento se ajusta como consequência natural de uma reorganização interna. Essa diferença é fundamental: enquanto abordagens diretivas buscam corrigir sintomas, a Gestalt trabalha com a ampliação da presença e da autenticidade.

Oaklander (1994) reforça que a terapia infantil é eficaz justamente porque devolve à criança a possibilidade de escolher, experimentar e criar novas respostas diante da vida — um processo que só ocorre em um espaço de aceitação e contato real.

A terapia muda a vida de uma criança não porque ensina o que ela deve fazer, mas porque a ajuda a se reconectar com quem ela é.

Essa reconexão é o que permite que ela expresse emoções, construa vínculos saudáveis e desenvolva recursos internos para lidar com os desafios do crescimento.

Como diz Violet Oaklander (1980), “Quando a criança encontra um lugar onde pode ser vista e ouvida, ela volta a florescer.”

E é exatamente isso que a terapia oferece: um espaço de presença, acolhimento e construção de novas possibilidades de existir. 🌱